sexta-feira, julho 3

A arte de perder




A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério. Perca um pouquinho a cada dia.
Aceite, austero, A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente Da viagem não feita.
Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe.
Ah! E nem quero Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas.
E um império Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles.
Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada.
Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça (Escreve!) muito sério

Elizabeth Bishop

sexta-feira, abril 17

Os entrelaces de angústia da pandemia


           A pandemia do Covid - 19 não vem só recheada com vírus, infecções e doenças respiratórias, ela vem acompanhada do entrelace daquilo que chamamos de angústia. Desperta no sujeito do inconsciente os mais variados sintomas encadeados na rede de significantes. Medo, ansiedade, compulsões, insônia, lentificação, entre outros que cabem ou não na dialética da linguagem.
O real, o indizível, é aquilo do que não queremos saber, não queremos dar conta, e em momentos de encontros próximo com a morte, a falta se impõe, com isso a angústia aparece. Nos impele a responder conforme aquilo que cada um pode! Comer mais ou menos, dormir mais ou menos, aumentar nossos batimentos cardíacos, nos tirar de uma atenção focada para uma dispersão que não encontra nada, um luto sem perda no agora, um medo de perder... Tudo isso para uma tentativa de encontrar palavra e signo! Não queremos saber disto! Mas uma coisa incomoda, rememoramos nos sonhos ou pesadelos, e eles tentam nos dar algum sinal de que algo realmente falta.
A morte é um relato do não sentido, daquilo que remete ao final de nossa história, e que aponta que somos seres faltantes. Em tempos de pandemia se deparar com essa questão é inevitável. Entretanto uma outra questão se impõe, sentir angústia é importante para tentarmos ressignificar nossas vivências? Se o efeito for o de avaliar os significando como o tempo, escolhas, afetos, relacionamentos, enfim, fatores da vida, talvez seja sim importante! Mas também é um desdobramento de uma tentativa de darmos conta daquilo que não queremos saber, uma tentativa que se mostra extremamente necessária em tempos vazios.


sexta-feira, fevereiro 5

Para o Carnaval

Todo ano é a mesma coisa: você chega, fica aqui três dias e aí vai embora. Volta um ano depois, todo animadinho, querendo me levar para a gandaia. Olha, honestamente, cansei.

Seus amigos, bando de mascarados, defendem você. Dizem que sempre foi assim, festeiro, brincalhão, mas que no fundo é supertradicional, de raízes cristãs, e só quer tornar as pessoas mais felizes. 

Para mim? Carnaval, desengano... Você recorre à sua origem popular e incentiva essas fantasias nas pessoas, de que você é o máximo, é pura alegria, mas não passa de entrudo mal-intencionado, um folguedo, que nunca viu um dia de trabalho na vida.

Acha-se a coisa mais linda do mundo e é cafonice pura. Vive desfilando pelas ruas, junto com os bêbados, relembrando o passado. Chega a ser triste.

Carnaval, você tem um chefe gordo e bobalhão que se acha um rei, mas não manda em nada. Nunca teve um relacionamento duradouro. Basta chegar perto de você e temos que aguentar aquelas fotos de mulheres nuas, que são o seu grande orgulho.

Você não tem vergonha, não?

Sei que as pessoas adoram você, Carnaval, mas eu estou cansada dos seus excessos e dessa sua existência improdutiva. Seja menos repetitivo, proponha algo novo. Desde que o conheço, você gosta das mesmas músicas. Gosta de baile. Desculpa, mas estou pulando fora.

Será que essa sua alegria toda não é para esconder alguma profunda tristeza? Será que você canta para não chorar? Tentei, várias vezes, abordar essas questões, e você sempre mudou de assunto. Ora, chega dessa loucura. Reconheça que você se esconde atrás de uma dupla personalidade.

Cada vez mais e mais pessoas ficam incomodadas com essa sua falsa euforia, fique sabendo. Conheço várias que fogem, querendo distância das suas brincadeiras.

Você oprime todo mundo com esse seu deslumbramento excessivo diante das coisas, sabia?

Por exemplo, essa sua mania de camarote. Onde os vips podem suar sem que isso pareça nojento. Onde se pode falar torto sem que seja errado. Todos vestidos de uniforme, senão não entram. Todos doidos para passar a mão na bunda um do outro.


Essa é a sua idéia de curtir a vida?

Menos purpurina, Carnaval. Menos bundas, menos dentes para fora. A vida é linda, mas a “lindeza do lindo mais lindo que há no lindíssimo” é um saco. Um pouco de calma e autocrítica nunca fez mal a ninguém. Tudo muda no mundo – por que você insiste em continuar o mesmo?

A harmonia vem da evolução, não das alegorias. Chegou a hora de rodar a baiana para não atravessar na avenida.

Como será amanhã? Responda quem puder.

Fernanda Young

segunda-feira, outubro 19

Meditação



40 minutos por dia. Esse é o tempo total necessário para realizar a Meditação Transcendental, técnica que promete combater diversos problemas, como estresse, ansiedade, falta de atenção e criatividade, depressão, pouco foco no trabalho, enxaqueca e até problemas cardíacos.


O resultado, segundo praticantes, vem em poucos dias (5 já são suficientes) e, por isso, pessoas de várias áreas, desde o setor empresarial até o artístico, têm aderido ao hábito. Entre os nomes famosos que empunham a bandeira da meditação estão a apresentadora Oprah Winfrey, o cineasta David Lynch, o músico Paul McCartney, os atores Hugh Jackman, Julia Lemmertz, Rodrigo Santoro e Cissa Guimarães, e o premiado judoca Flávio Canto.


Empresas como Farmoquímica, Shell e Lemgruber estão entre as que já disponibilizaram a técnica para os funcionários, com foco no aumento de produtividade e de qualidade de vida dos trabalhadores.


De acordo com Klebér Tani, educador físico e diretor da Sociedade Internacional de Meditação no Brasil, a atividade foi criada oficialmente pelo guru Maharishi Mahesh Yogi, com quem aprendeu a técnica. O brasileiro ressalta que não há ligação com religião, crença ou filosofia de vida, nem exigências de mudanças de hábitos de vida ou de alimentação.


“A Meditação Transcendental é uma técnica milenar que veio da Índia e que, hoje, tem muito respaldo científico. Mais de 1.400 publicações científicas mostraram os benefícios”, afirma. A atividade, segundo ele, é uma forma de autoconhecimento, que diminui a excitação mental, o estresse e a tensão, proporcionando benefícios para pessoas de diferentes perfis e faixas etárias, desde crianças até idosos.


Diferentemente de outros tipos de meditação, não é preciso ter um elevado controle mental ou “esvaziar” a cabeça para praticar. “É uma técnica extremamente fácil. Você não tem que lutar contra os pensamentos”, diz.


O especialista dá aulas sobre o tema há mais de 30 anos e, nos dias 29 e 30 de novembro, vai dar o workshop “Ayurveda, Meditação Transcendental e Saúde”, no Polo de Pensamento Contemporâneo, no Rio de Janeiro. Lá, ele explicará o potencial da prática, sua relação com a medicina ayurvédica, e ensinará uma técnica de relaxamento, diferente da meditação.


Mas, apesar de não ser de difícil realização, para aprender a praticar a meditação transcendental, é necessário um pouco mais do que um final de semana. Segundo o Tani, a técnica só pode ser assimilada por meio de um curso, que costuma durar uma semana, com e acompanhamento de um professor por três meses.


Essa orientação é importante porque, além de passar as informações gerais sobre a técnica, o professor faz uma analise personalizada do indivíduo, para que o método esteja de acordo com suas necessidades particulares. Ao fazer uma anamnese, perguntando hábitos e outros dados, o guia passará à pessoa um mantra pessoal, que deverá ser entoado mentalmente durante a meditação.


O ideal é fazer em duas sessões de 20 minutos, preferencialmente antes das refeições, com o estômago vazio. Não é preciso estar em um lugar silencioso, nem se sentar na posição de “flor de lótus”, e até o caminho para o trabalho pode ser uma oportunidade para meditar (se não estiver dirigindo, claro).


Veja abaixo alguns dos principais benefícios já apontados pelas pesquisas:


- Redução da arterosclerose


- Pressão arterial mais baixa


- Redução do colesterol


- Redução da insuficiência cardíaca


- Diminuição da depressão


- Diminuição dos radicais livres


- Menor ansiedade


- Redução da insônia


- Redução do estresse e rápida recuperação do estresse


- Redução na dor


- Aumento de inteligência, criatividade e habilidade de aprendizagem


- Melhor eficiência e produtividade


- Reversão do envelhecimento precoce e maior longevidade


- Funcionamento cerebral em níveis mais elevados


- Redução do abuso de substâncias


- Redução de comportamento criminoso e de conflitos


- Melhor comportamento na escola


Luciana Carvalho

domingo, novembro 23

Changes

   

          
            As reais mudanças não acontecem a base de alegria e mania, elas vem aglomeradas por aqueles momentos de dor, visceral. Quando estamos felizes o único gozo e foco é a própria alegria, não colidimos com as nossas indecisões ou fraquezas. Na alegria vivenciamos o momento sem questionarmos o modelo do bem viver. Vivemos num momento do viver agora o tempo está para o hoje e para este exato minuto, o que foi já não é tão interessante.
Contudo quando há dor, sofrimento e angústia, tudo se volta para a ferida, e como vampiros somos levados a sugar nossas próprias energias para descobrir nossa finitude enquanto seres que não são de ferro mas de carne e alma. Vejo como algo positivo ao ser, pois no sofrimento podemos nos perceber melhor e mais claramente. Podemos alterar o que está petrificado, podemos tocar onde estava escondido, podemos voar para locais antes inabitáveis. Aí nesse vento de dores, somos quase obrigados a mudar, a se posicionar frente a nós mesmo e encarar nossas cruéis verdades.
Então sejamos abertos ao sofrimento, sejamos abertos a mudanças, nada fica, nada é estático, há de mudar, acompanhe, chore, mergulhe, mas volte. Se permita mudar!